Grão a Grão, a Bailarina cresce e floresce!
- Cris Aysel
- 8 de jul. de 2020
- 5 min de leitura
Parte 2 de 2 - Do mundo da paciência e da persistência.
Hoje, em continuação do post da semana passada (se ainda não tiveram oportunidade de ler convido-vos a ler antes, é uma leitura rápida de 3 minutos) irei apresentar alguns tópicos que acho que são importantes, para que possam ter em conta na vossa visão e quem sabe trabalhar algumas questões em vocês e na vossa dança. Muita coisa foi aprendida com a vida, com a prática, outras aprendi na minha formação. Ser psicóloga de profissão, pode ter-me dado, algum fundamento teórico, mas para passar a ser parte de mim tenho de trabalhar muito internamente e sei que esta pode ser a grande luta…na dança e na vida! Continuo a trabalhar, portanto, nesta descoberta de mim mesma e de mim na dança. Aqui vai uma pequena selecção que espero que vos ajude:
- Nós somos as principais responsáveis pela nossa evolução. Esta frase está implícita em muito do que escrevi antes, mas achei importante estar aqui nos tópicos. A vida de bailarina, quer seja de praticante, amadora ou profissional exige este reconhecimento. E sei como volta e meia tenho de voltar a me lembrar disto, para não perder o foco e ser mais justa;
- Ser trabalhadora, mas de forma realista. Façam uma lista de objectivos (curto, médio e longo prazo) e de tarefas. A vossa lista de objectivos pode ir sendo revista, sem fazerem grande pressão em vocês mesmas. Pode ser algo tão simples como: ter mais equilíbrio, trabalhar a fluidez, a dissociação corporal. Tentem atribuir tarefas, mas que sejam adaptadas à vossa vida e que saibam que é possível cumprir. Dizer que vão treinar 3 horas por dia, mas com uma vida tão cheia, fará com que desistam antes sequer de tentar. Se reservarem 10 minutos por dia para trabalhar algo específico, por exemplo, fará maravilhas…no entanto, não podem achar que vão ter resultados logo. O corpo precisa de tempo, a nossa mente precisa de tempo…aumentar a linguagem corporal, requer dedicação, mas acima de tudo muita paciência e persistência. Um dia sentirão a mudança no corpo…mas não a queiram de forma imediata…daí a perseverança, é preciso acreditar que irão melhorar, mas fazer, sempre!!

- Ser humilde. O que isto tem a ver com a questão da paciência persistência e perseverança? Tudo! Se conseguir manter a minha humildade, poderei continuar a trabalhar, por exemplo, movimentos que serão considerados básicos, simples e que não me fará entrar no ciclo: “já não preciso os trabalhar, pois já os domino”. Este item estará cheio de citações e coisas que aprendi com mestres ao longo do tempo que ajudaram-me (ainda ajudam-me e muito) a manter este caminho, peço desculpa se estiver a ser chata, ehehe. No final de um workshop que fiz com Shokry Mohamed, ele perguntou-me há quantos anos dançava. Respondi que dançava há 5 anos. Shokry disse que conseguia ver muito a minha evolução (conheci-o mal comecei a fazer aulas e fico muito grata por ter tido este mestre na vida), mas que me aconselhava uma coisa: “treinar sempre e não descurar a base, um oito hoje, não é igual a um oito amanhã”. Isto foi muito, mas muito importante para mim…às vezes queremos aprender coisas extremamente difíceis, enquanto a base apurada será a nossa vida. Muitos anos depois, volto a ouvir uma citação que outra bailarina fantástica fez num workshop que fiz com ela. Mahaila El Helwa disse que “o básico não é o fácil, o básico é o importante”. Para finalizar as citações e exemplos, há dias (enquanto já tentava, pacientemente, escrever este texto, que avançava muito lentamente e havia dias em que apenas mudava ou corrigia o que tinha escrito, pois a vida por vezes fica bastante cheia…mas não desisti!) frequentei um maravilhoso webinar, organizado por uma das minhas mestras e professoras regulares que tive, a Joana Saahirah, que convidou a poderosa Leila Haddad, artista com todas as letras. Ela partilhou, enquanto falava também sobre a humildade, que Nureyev, um dos maiores bailarinos da história, antes de iniciar o seu treino com a companhia, fazia sempre a aula das crianças, para continuar a fortalecer a sua técnica. Claro que era persistente e no seu processo de aprendizagem, treinava horas para dominar os passos mais difíceis, no entanto, apesar do seu génio impetuoso, nunca tratou a dança e os seus passos básicos com desdém.
Aqui deixo uma nota pessoal, se conseguirem manter a vossa humildade, quer dancem há muito ou pouco tempo, se se mostrarem genuínas/os e terem sempre presentes que há um mundo inesgotável de aprendizagens, o mundo (ou parte dele, ehehhe) vos verá com outros olhos.
- Não se compararem. Regra que parece tão simples, mas não é…quem nunca se comparou com outras/os colegas da sala, com bailarinas/os e achar que nunca vai poder ser como elas/eles? Lá isso é verdade…não seremos como o outro, pois não somos o outro. Cada pessoa tem o seu tempo, tem a sua dedicação, tem as suas competências. Treine para si, porque gosta, por mais difícil que seja, celebre as suas vitórias (já domina melhor um shimmy? Então toca a comemorar, ehehe) e tente olhar para si, como pessoa única e especial que é, com a sua história, possibilidades, limitações e reconhecimento das falhas e de todas as coisas boas de que é capaz!

- Tente, sempre! A nossa capacidade de lidar com a frustração é algo complexa e a maior parte das vezes a dificuldade em lidar com a frustração nos acompanha desde crianças. É como se fosse a confirmação de que não somos realmente bons. Lidar com estas questões emocionais não é fácil, apenas deixo alguns conselhos para tentar analisar o seu percurso e não paralisar perante os desafios. Quando lhe aparecer uma oportunidade (apresentar um exercício na aula, fazer um improviso em sala, fazer um solo num espectáculo, ou o que quer que seja), tente! Mesmo que seja assustador, no final, verá que conseguiu! Podia ter sido melhor? Talvez, mas a tentativa já fez com que conseguisse fazer algo, que evoluísse e que poderá posteriormente analisar o que poderia fazer melhor, receber feedback de coração aberto e voltar a tentar! Henry Ford afirmou: “há mais pessoas que desistem do que fracassam”. Por vezes alteramos planos, reformulamos nossos objectivos, mas tudo porque tentou…portanto, siga em frente!
- Sirva a arte com amor. Este será o meu último ponto deste texto…amar o que fazemos é fundamental. Ama a dança, mesmo que não queira ser bailarina profissional, ama a dança, principalmente se for bailarina profissional. Não sabia se um dia seria bailarina profissional, mas o meu amor foi sempre inquestionável. Poderia nunca ter sido profissão, mas sei que estaria a dançar até hoje. A dança merece ser servida com amor e eu também mereço fazer algo que amo…e vocês também!
Espero que esta reflexão vos ajude e, quando tiverem dúvidas, não se preocupem, faz parte do caminho, mas tentem sempre evoluir com humildade…a vossa perseverança será uma recompensa!
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